A MENINA DA TERCEIRA CASA
Todo dia eu levantava, escovava os cabelos,
tomava meu café, e ia assistir aula a 6 quilômetros da casa onde eu morava com minha família, éramos em 5 , eu , meu pai, minha mãe, e 2 irmãos, os dias na fazenda passavam devagar,
quatro e meia da manhã era o normal para estarmos todos de pé, eu acordava bem antes das 6h, e tudo tinha que estar prontinho, leite na mesa,
ovos fritos e o pão da mamãe, e como todo
dia aquele dia não tinha sido muito diferente dos outros, no caminho da
minha casa até o colégio, eram simetricamente contados por mim as 5 casinhas e os 3 pés de barriguda, eu saia
de casa cedinho e começava a contar, passava na primeira casa e em minha
cabeça se formava a contagem, menos uma faltam 4 casinhas, e 3 barrigudas para chegar no colégio,
outra casinha, menos 2, falta 3 casinhas e 3 barrigudas para o colégio.
Peguei minha bolsa, daquelas de alça, e
caminhei, chutava as pedras e sentia o cheiro da terra molhada pelo orvalho da
madrugada, enchia o peito e corria, correndo, mas não muito, menino traquino, não
poderia chegar suado na sala de aula, decorando a tabuada, organizava as
ideias, e caminhava na estrada de terra, dividindo o caminho com as vacas e com
os jumentos, essa longa jornada.
Na primeira casa eu sempre parava para olhar o
macaco de seu João, seu João era um senhor que vivia sozinho, no quintal tinha
algumas galinhas que ciscavam o chão, um galo que anunciava meus passos, o
cheiro de café no meio do roçado, dividindo os pés de palma e de milho, o
cultivo era o que tinha pra comer, a cidade era muito luxo e muito assustadora
para aquela gente, eu era menino, e fui uma vez, para Campina Grande, era uma
loucura, muito carro, muita gente nervosa , prefiro o cantar da rolinha e da
ribaçã, aquilo não dava para mim, quanto mais para seu João, um velho ranzinza,
o macaco de seu João era o “boliu”, me disseram que ele pegou quando era mais novo,
o “boliu” ainda filhote nesse dia dizem que ele trouxe em uma caixinha de
sapatos o primata até o sertão da
Paraíba, no começo a casa de seu João era suficiente para os dois, só que não
avisaram a seu João que “boliu” era um "bogiu", e o bogiu não é um
bicho muito pequeno, logo, ou ficava
boliu ou ficava seu João dentro da casinha de taipa, pobre do boliu, foi parar
em cima do pé de goiaba, e eu tinha o péssimo habito de gritar todos os dias na
minha caminhada.
-boliu , bolinha, desgraça, murrinha..
O macaco pulava pra lá e pra cá, gritava grunia,
e seu João falava lá do meio do roçado,
-menino danado, deixa o macaco.
E eu saia correndo...
Na segunda casa eram duas irmãs gêmeas que
moravam, a casa era de um quintal bonito de dar gosto, graminha verde, pé de
manga, flores no jardim, as duas saiam pela manhã, com o mesmo vestido florado,
cada uma com um regador, uma ficava com as rosas, outras com as margaridas, o
cercado era branquinho, em volta de toda casinha, a fumaça emergia de dentro do
bule, era da cozinha, simpáticas elas me viam, debruçados na sua cerca, e
faziam.
-vamos comer? dando um leve xau de longe!
-não obrigado!
Nessa altura já estava quase na metade, a
primeira barriguda eu passei, mas ainda tinha muita caminhada, o caminho era
longo, mas a paisagem do dia nascendo me revigorava, a segunda barriguda era
antes da terceira casa, passei por ela correndo, falavam que ela era mal assombrada,
apesar de não acreditar nessas besteiras de "alma", eu acho melhor não
confiar, sempre dou uma aceleradazinha no passo, melhor garantir.
A terceira casa, não tinha nada, uma casa
vazia, um velho e uma velha, mau humorados, pareciam sempre tristes, nunca
parava para observa-los direito, achava o seu desanimo contagiante, eu acabava
ficando triste também, era uma casa grande, tinha uma porta, uma janela de
um lado e outra janela do outro lado da
porta, olhava sempre com o cantinho do olho baixava a cabeça e caminhava sempre
em frente, mas ficava na caminhada um tempo pensando porque eles eram tão
tristes, a casinha tão bonita, e eles sempre tristonhos.
A quarta casa era a casa do Jair, todo dia eu o
chamava para ir comigo, Jair era meu
melhor amigo, estudava na minha classe, e o pai dele era amigo do meu pai a
muito tempo, nós crescemos juntos, e vivíamos nas horas vagas aprontando no
meio da capoeira, caçando ribaçã, tomando banho de rio, e fazendo o dever de
casa, como todo dia lá vou eu acordar o Jair, ele é muito dorminhoco, a mãe
dele já tinha desistido de botar ordem no Jair, então eu quem boto moral no
lesera, pra ele querer alguma coisa com a vida, claro, já vou entrando no
quintal, abrindo a porta e dizendo.
-bom dia dona Cida, e o Jair?
-o Jair tá dormindo meu filho,
você não sabe como ele é. Veja se você acorda essa bela adormecida.
-tá bom... - vou entrando no meio da casa, passo pelo corredor, entro no
quarto, e já dou uma tapa na cabeça daquele dorminhoco.
-bora meu filho, levanta “pra” Jesus!
Na velocidade da luz, ele se ajeita engole um
pão e seguimos caminho, já na quinta casa, a gente pula o muro e rouba seriguela,
e todo dia a gente segue essa rotina, mas naquele dia as coisas foram
diferentes, quando o Jair me falou que na terceira casa do meu caminho estava
chegando uma moradora, que disseram que era uma menina, e que ela era muito
diferente, mas tão diferente que nunca teve amigos, tão diferente que mandaram ela
vir morar aqui no meio do nada na zona rural com os velhos seus avós, e ainda
diziam que ela podia voar e brilhar no escuro, eu fiquei super curioso afinal, mas
diferente como? que tipo de diferença? na minha mente formou-se as hipóteses,
será que ela é contorcionista como uma menina que veio no circo um dia desses
por aqui, era muito estranho ver uma pessoa colocar o pé atrás da própria
orelha, é melhor nem pensar nisso, já sei, acho que ela é uma daquelas meninas
que se vestem de preto e que escutam umas musicas que faz muito barulho, um tal
de rockize, roikse, sei lá, ela deve ter aqueles desenhos no coro que chamam de “tartuage”, ou melhor ela é uma
super menina e veio pra cá disfarçada de alguma super aventura, a sei lá, não
sei como é ser diferente, mas deve ser ruim, mas brilhar e voar tem condições
não como é uma pessoa tão diferente? mas voar é demais , como é possível, acho
que estão loucos, mas será?
Fiquei curioso demais e minha inquietação na aula inteira não me deixava fazer outra
coisa ,pensei na tal diferença, tá certo que tem uns mais escurinhos, outros
mais clarinhos, um de olho puxado, outro de olho grandão, mas são todos tão
iguais, é difícil pensar em uma diferença, e pensava e pensava, terminou a aula
e eu fui o primeiro a sair, e quase correndo eu queria passar logo na terceira
casa, não roubei seriguela, dei um xau de longe pra mãe do Jair, e fui ver esse
menina tão diferente, caladinho fui na porta da casa do Seu Chico e Dona Maria e
estava fechada, eles eram aqueles velhinhos que moravam só que falei no começo da prosa, que sempre estavam
tristes e mal humorados. Estranho, sempre
quando eu passo para casa do colégio, sempre eles estavam assistindo televisão,
e logo hoje, que eu queria ver esse menina diferente eles não estão, a casa
esta toda fechada, até as janelas, não da pra ver nadinha, que frustrante,
pulei o muro e comecei a imaginar, se ela é uma menina, talvez uma garotinha,
deve ser neta deles, mas onde danado eles esconderam essa menina, como eu era
muito "impossive", resolvi tramar um plano mirabolante, me esconder
dentro da casa e ficar caladinho, olhar ela de perto e depois sair, mas morrendo
de medo, só a cara do Seu Chico fazia qualquer um achar o papa figo um bichano.
Primeira etapa do plano tá pronta, abrir a
janela , a isso foi fácil, dei uma empurradinha, desloquei o ferrolho, e
consegui abrir, me apoiei no cimento, peguei salto e pulei, boom, cai no meio
do chão liso da sala, agora é só achar um canto pra se esconder, um lugar
perfeito, achei uma cômoda de madeira meio alta, perfeita pra um guri de 12
anos ficar escondido, não demorei e fui “simbora” me entocando debaixo da cômoda,
estava tudo escuro e apenas a luz da fresta da porta na parte de baixo, iluminando
o chão frio de cimento batido onde eu estava deitado, foi quando começou o “vumvum”
de um carro, olhei de onde estava o que danado era por debaixo da porta da casa,
e só conseguia enxergar os pés de duas pessoas descendo de um carro , pela voz
vi logo que era Seu Chico, a outra, a outra não dava pra ver, mas notei que a
voz de Seu Chico estava brava, ai começou com as borboletas voando dentro da
minha barriga, era uma agonia um frio nas pernas, a bexiga ficando frouxa, e se
ele me pega? pensei, Ave Maria mãe de Deus, mas calma, vamos refletir, " ora,
sou um homem ou um rato? ", sou um homem, decidi comigo mesmo, mas assim
que virei o rosto na parede da sala uma espingarda cartucheira pendurada e
prontinha para ser usada, ai meu Deus, não
aguentei e sai com o pé batendo na bunda em disparada na carrera, procurando a
saída na porta da cozinha, e o povo entrando na casa pela frente, e eu sem
conseguir abrir a miserável da porta de trás, depois de muita peleja abri,
fechei e dei a volta no quintal, pra ver se via a dita cuja da menina, quando
cheguei do outro lado, era tarde já tinha entrado todos na casa, e o velho
batia a porta quase na minha “fuça” se eu estivesse perto.
Fui pra casa pensando naquele mistério, será
que a menina realmente veio? Como será
que ela é? Cheguei em casa, liguei a televisão, e mais um fim de dia normal, em
uma família normal do interior, e ainda mais da zona rural, todo mundo reunido
na frente da televisão para assistir o jornal, jantar e ir dormir cedo, para no
outro dia começar toda enfadonha rotina novamente.
Logo que o galo cantou não me veio outro
pensamento, tomar banho e ir logo a terceira casa, sai de casa chutando a mesma pedra, correndo
e respirando o orvalho como de costume, na primeira casa, parei mais rápido
para ver o “Boliu”, ainda tive força pra gritar.
-boliu, bolinha, “disgraça”, murrinha!
E ouvi o velho João gritar do meio do roçado,
deixa o macaco menino safado, sai correndo na segunda casa, olhei para as gêmeas,
eles estavam mais simétricas do que nunca, xau as duas, xau elas gritaram,
vamos comer? Agradeci mas acelerei o passo, queria era chegar na terceira
casa, fui chegando e a curiosidade aumentando, “bum bum” bate o coração de
adrenalina logo de manhã, passei na frente da casa, e confesso que não vi nada,
não pode ser, eu pensei, hoje de novo? Cadê essa menina? Já sei que ela deve
ser diferente mesmo viu, porque só pode ser a menina “invisível”, fiz que perdi alguma coisa e voltei, olhava
pra baixo, e com canto de olho em direção a casa, foi quando o sol, ofuscou
minha visão, e perdi por milésimo de segundos minha vista, mas como um anjo ela
surgiu na janela, de olhos azuis, de cabelos amarelinhos, bochechas rosadas,
uma roupa compostinha, e o cabelo solto no vento, debruçada sobre a janela, o
ser mais lindo que vi na terra, seu olhar perdido no horizonte, beirava
realmente a incógnita, e bateu o coração do menino, a inocência da virgindade
de sentimento, descobre o que talvez seria o amor?
Observava de longe, tímido baixei a cabeça,
olhava de novo, encarava e franzia a testa,
ela olhando para o horizonte parecia pensativa, olhava pra frente e não
me notava, mas fiquei com tamanha cara de bobo, eu ela me viu, fixou o olhar,
eu não aguentei e sai correndo que coisa estranha, senti um frio subindo a
espinha, um suor sem calor, o que danado era aquilo, parecia que a menina era
uma bruxinha, no meio da correria na quarta casa perguntei por Jair.
-
Cadê Jair? A mãe do menino lá dentro da quarta casa gritou, Jair já foi
pra o colégio, hoje ele nem te esperou, aconteceu um milagre, hoje esse menino
acordou bem no horário e você não chegou, pegou a mochila abriu a porta e se
mandou..
Achei engraçado e ficava pensando o que aquela
menina tinha demais, esta certo que era bela, mas também não era tão diferente
assim, contei dois olhos, uma boca e um nariz, não vi nada de mais, para tanto
assombro, quando chegar no colégio, vou dizer a Jair.
-
Ei Jair, vi a menina.
-
E ai como ela é? Tem pés de cabra? Cospe fogo? Ou será que voa?
-
“Homi” deixe de ser besta, ela é bem normal, cabelo cor do sol, bochecha
como uma tomate madura, branquinha como folha de papel, mas quando vi o azul
de céu dos seus olhos, não aguentei e corri.
-
Correu? Deixei de ser mole cabra frouxo, tu correu do olhar de um
mulher? Imagina quando alguma doida um dia querer te dar um “bejim”?
Fiquei sem moral, todo
encabulado, na primeira vez que uma menina olha pra mim, eu pego e corro? Isso não
e natural, até do macaco de seu João eu enfrentava, mas aquela menina, não
conseguia nem mesmo pensar, em encarar...mas vendo o Jair rindo da minha cara,
pensei, hoje eu vou ficar e perguntar àquela bruxinha...
-
Tá olhando o que hein?
Jair não satisfeito chamou os meninos do sitio
inteiro , para contar a minha historia, fiquei todo por fora, e eu disse.
-a é? Então porque você não vai lá?
E Jair todo afoito.
-mas pois, hoje eu vou na terceira casa
conhecer essa menina, e puxar um monte de conversa, vou honrar a minha cueca,
que eu não sou mole como uns “cabrinha ali”
No fim da aula foi aquela
algazarra um monte de menino saindo do Colégio, queriam mesmo ver o azul dos
olhos da menina da terceira casa, a novata da região, e ver o Jair garanhão, se
dar bem na conversa.
Passamos da quinta e da quarta casa, os
meninos atrás do pé de barriguda olhavam de longe, Jair se afastou e foi
caminhando, na janela da casa não tinha ninguém, e eu pensava, “o bicho de
sorte”, ele foi andando com uma moral, que cabra valente, seu conceito subiu
pra toda molecada, mais quando menos esperava, na outra janela a menina
apareceu, com um olhar espantada ela
olhou pra o menino, no meio do quintal, e ele olhou para ela, o Jair parou de
andar, e de longe a perna a gente via “bambiar”, Jair esboçou um sorriso, mas
nada saia, ela começou a lhe encarar, e quando pensou em falar, Jair gritou,
Mainha tô chegando pare de gritar, e o pé do menino na bunda batia com medo da
guria da terceira casa, eu pensava que corria
mas comparado a Jair eu vi que era um pangaré velho.
E todos os dias era
aquela historia eu passava na terceira casa e mal virava a cara, olhava de lado
e com o canto do olho, via a menina sempre debruçada na janela olhando o
horizonte, ela nunca me percebia direito, eu passava como um fantasma sem
chamar atenção, mas confesso que meus dias ficavam bem mais interessantes, não
tinha mais macaco, nem tinha mais gêmeas, o meu pensamento era sempre a menina da
terceira casa, mas pensando comigo, eu ficava imaginando, coitada da menina,
nunca vi ela saindo de dentro da casa, não tem amigos, nem estuda, vive apenas
com aqueles velhos mal humorados, que por sinal nunca mais tinha os visto, ela
sempre estava lá fora nos mesmos horários, quando eu ia de manhãzinha para
aula, e no começo da tarde quando eu vinha, as vezes passava a noite, e era
tudo fechado, passava de tardezinha para jogar bola na quadra do colégio e tudo
fechado, tudo era muito estranho, muito estranho...
Um dia uma coisa
diferente aconteceu, eu sabia que aquela dia prometia, o
galo cantou mais alto, o ar estava mais puro, o dia mais claro, parei pra
insultar o macaco e ele nem ligou, me olhou com uma espécie de sorriso, estava
achando aquilo muito estranho, quando passei na segunda casa estavam as gêmeas
morrendo de rir, brincando com o cachorro filhote que acabaram de encontrar, a
felicidade estava realmente pairando no ar, e o mais incrível aconteceu, como
todo dia na casa terceira, olhei a menina na janela, e ela estava lá, baixei a
cabeça e segui, foi quando ouvi aquela vozinha.
-ei menino teu lápis...
Pensei que era o vento e
continuei andando, de novo a voz. só que mais alto...
-ei menino o lápis...
Eu olhei de lado e era a
menina falando, rindo pra mim, na maior simpatia...
-seu lápis caiu no chão, olha ele lá atrás,
você vinha andando tão distraído que nem percebeu...
Eu com um cara de
espantado nem agradeci, voltei peguei o lápis e dei uma risadinha...todo sem
jeito..., tomei folego e disse...
-obrigado.
-não a de que, qual o seu nome? Ela perguntou
Respondi e perguntei o dela em seguida..
-Amanda, muito prazer, você mora aqui perto não
é?
-sim, eu moro a três casas da sua...
-ah sei, perto da casa que tem um macaco
grandão?
-sim como sabe? Você já foi lá?
-não, mas meus avós me contaram, que tinha um
macaco gigante ali na primeira casa depois da sua..
-somos amigos- na cara de pau respondi falando
do macaco.
- você então é neta dos seus avós, ops, claro,
desculpe as vezes eu sou meio burrinho( nervoso pra danado eu estava e falando
besteira disfarçando com um sorriso amarelo)
-sim, sou neta dos meus avós...- caindo na
gargalhada ela respondeu.
E a partir dali perdi foi a hora da aula,
conversamos e conversamos, descobri que ela era de João Pessoa cidade grande que era capital da Paraíba, que ela estava de férias, e que era a primeira vez que tinha
vindo a um sítio, disse que a noite contava as estrelas, era fã da lua, contou
quanto era feliz na sua casa da capital, disse que seus pais eram maravilhosos,
mas que não tinha irmãos, rimos juntos contando piadas, e ela até ficou
tristinha quando falou da morte do seu cachorrinho “algodão”, disse que ia a
praia, eu fiquei fechando os olhos e imaginado como era, menino de sítio nunca
tinha ao menos colocado o pé naquela areia, e ela disse que tinha o suficiente
pra encher uns três açudes do que tínhamos na região, sem contar o montão de água
mas ela disse que era água ruim, salgada como carne de charque, eu já tinha até
visto mas era na televisão nos filmes lá do Rio de Janeiro, nos livros que lia
as vezes, mas vendo assim ela falando eu me sentia lá, correndo pra lá e pra cá
com o Algodão seu finado cachorro, e todo dia criamos aquela rotina, na volta
do colégio eu ia lá e conversava um pedacinho, e voltava pra casa, todo dia e todo
dia...
Mais uma vez Jair me fez a pergunta que me despertou
para uma coisa que eu já tinha ate esquecido.
-e ai? o que danado ela tem que o povo fala que ela é
diferente..
Ai comecei a falar..
-a ela é diferente, porque ahhh, por que ela é
legal, ela é engraçada...- e não conseguia descrever mais nada da danada.
-sim, mais isso ai você já falou, eu também
sou legal e engraçado, quero saber das coisas secretas que o povo falaaaa... -
em tom de mistério imitando um fantasma ele comentou.
-sinceramente,
nada demais- respondi a Jair
Apesar de decepcionado
fiquei com aquilo martelando na cabeça, o que ela tinha? Tantas conversas não
poderiam ser em vão, afinal por aqui temos um ditado, onde há fumaça há fogo,
então resolvi nesse dia ser mais curioso e tentar descobrir o mistério de Amanda
da terceira casa, outra coisa que não saia da minha cabeça, onde danado que os
avós dela estavam? Desde que ela chegou eles sumiram. De repente comecei a
pensar um monte de besteira, e minha mente se encucava e concluía uma coisa:
-meu deus agora tudo faz sentido, Amanda com
aquela carinha de anjo, deve ter dado sumiço aos vovôs, será?
CONTINUA...